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Cardiotoxicidade

A ibogaina, um composto psicoativo capaz de modular diversos sistemas de neurotransmissores, pode gerar efeitos a nivel do sistema cardiovascular, estando relacionados com a sua atividade no sistema nervoso central (SNC).

Além disso, já foi provado que a ibogaína, inibe os canais de cálcio dependentes da voltagem presentes nos neurónios simpáticos e parassimpáticos através da ligação ao recetor Sigma que pode influenciar a sinalização entre células e, por isso, a regulação do ritmo cardiaco pelo sistema nervoso periférico.

Bradicardia

Um dos efeitos da ibogaína é a bradicardia, possivelmente relacionada com os efeitos estimulantes sobre o sistema colinérgico. Foram propostos dois mecanismos para explicar este fenómeno: a inibição da acetilcolinesterase, que foi rovado ser insignificante, e a ação agonista sobre os recetores muscarinicos da acetilcolina, M1 e M2, sendo ativados por doses na ordem do micromolar [1]

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Um outro mecanismo pelo qual a ibogaína poderá provocar bradicardia é pela inibição dos canais de sódio dependentes de voltagem, tendo, no entanto, maior afinidade para os canais de sódio presentes no cérebro do que os cardiacos, nao interferindo de forma substancial no rotmo cardiaco. Apesar de não ter efeito significativo no coração, o facto de inibir os canais de sódio em concentrações micromolares não permite que seja totalmente excluido [1].

A modulação de canais de iões, que representam os principais determinantes fisiológicas da frequência cardíaca, merece também alguma atenção. Estes são canais que contribuem para a despolarização diastólica em regiões marca-passo do coração, como por exemplo, os canais de cálcio do tipo T, e os canais de cálcio Cav1.3 L-tipo, bem como canais de potássio mediados pela ativação da proteína G. Estes ultimos medeiam a saída de potássio quando ativados, por exemplo, pela acetilcolina, diminuindo o ritmo cardiaco. Se a ibogaína tiver efeitos modulatórios em qualquer um dos canais em concentrações micromolares, isto resultará em alterações da frequencia cardiaca [1].

Alteração do intervalo QT e Arritmias

Um estudo recente, sugeriu um mecanismo pelo qual a ibogaína pode causar arritmias cardíacas. Foi descoberto que a ibogaína inibe o gene hERG (ether-on-go-go-channels) dos canais de potássio no coração, canais esses que são vitais para a fase de repolarização do potencial de ação cardíaco. O bloqueio destes canais pela ibogaína atrasa esta repolarização, resultando num prolongamento do intervalo QT resultando, consequente, num risco aumentado de a arritmias, torsade de pointes e morte súbita. Este é um dos motivos pelo qual muitos fármacos ficam pela fase pré-clinica, nunca chegando ao mercado e à terapêutica.

A inibição dos canais hERG é reversivel e dependente da concentração. As doses a que a ibogaína exerce esta inibição dos canais de hERG são equivalentes às doses utilizadas  no tratamento de toxicodependentes.

Foi demonstrado, também, que a ibogaína inibe os canais de sódio e cálcio nos cardiomiócitos ventriculares humanos e que estes efeitos inibitórios também resultam num prolongamento do intervalo QT, levando, mais uma vez, a ocorrencia de arritmias e morte súbita [2].

Comparando com a ibogaína, o metabolito sintético 18-MC, é menos tóxico a nivel cardiaco. O ritmo cardiaco é amplamente afetado pela ativação dos recetores Sigma, para os quais 18-MC têm muito menor afinidade [2].

1. Koenig X, Hilber K (2015) The anti-addiction drug ibogaine and the heart: a delicate relation. Molecules 20(2):2208-28 doi:10.3390/molecules20022208

2. Koenig X, Kovar M, Boehm S, Sandtner W, Hilber K (2014) Anti-addiction drug ibogaine inhibits hERG channels: a cardiac arrhythmia risk. Addiction biology 19(2):237-9 doi:10.1111/j.1369-1600.2012.00447.x

Fig. Mecanismo sugerido para a indução de arritmias cardíacas pela ibogaína [2]

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